(Re) Pensando o Direito

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quarta-feira, 25 de abril de 2012

Qual é o lugar do amor no currículo das Faculdades de Direito?

Foi essa a pergunta feita por Luis Alberto Warat em na mesa sobre ensino jurídico organizada em 2009 pelo Centro Acadêmico Hugo Simas da UFPR, da qual tive a honra de participar. Falar depois dele foi certamente uma tarefa ingrata. Seu carisma e capacidade de provocar estavam à altura da tradição da filosofia da época de Sócrates na qual os cidadãos eram abordados na pólis com o objetivo de testar a racionalidade de suas opiniões. Como de hábito, Warat criticou duramente o formalismo no pensamento jurídico como um meio de abstrair o mundo social da reflexão e da aplicação do direito. O resultado disso seria a formação de profissionais incapazes de perceber a dimensão real dos problemas com os quais terão que lidar. Os últimos escritos de fôlego de Warat versaram sobre a conciliação compreendida como um mecanismo de solução de conflitos alternativo à forma judicial tradicional. Seu objetivo nestes textos foi imaginar desenhos institucionais capazes de incluir em sua racionalidade a dimensão afetiva, emocional e individual dos seres humanos. Warat buscava uma nova gramática para as instituições. A jurisdição que atua a partir de normas abstratas traz vantagens e desvantagens. A principal vantagem é conferir ao procedimento decisório alto grau de neutralidade: o juiz não deve se implicar no problema, pois ele é um instrumento para fazer valer a vontade do povo. No entanto, tal vantagem pode vir a se tornar uma desvantagem. Ao ignorar a realidade social e se tornar um exegeta de normas, o direito pode ficar insulado do mundo real. Um exemplo simples: “São proibidos animais neste recinto”. Esta norma vale para cães-guia utilizados por deficientes visuais? O juiz, ao decidir, pode criar uma exceção a ela ou deve esperar que o legislador se manifeste? Se decidir agir, o juiz não estaria saindo de seu papel ao fazer uma avaliação própria do conflito social, sem referência direta à vontade do legislador? E tal ação não cria o risco de arbítrio? Pode haver casos em que a injustiça que nasce da aplicação mecânica da norma não fique assim tão patente. Há duas saídas razoáveis para este beco sem saída: postular um aprofundamento do formalismo e sua concepção clássica de separação dos poderes ou redesenhar a separação de poderes e rever o papel do juiz singular e da hermenêutica jurídica como mecanismos de solução dos conflitos sociais. Já é hora de imaginar um Poder Judiciário em que a jurisdição não seja o principal meio de solução de conflitos e em que o juiz neutro e individual não seja modelo para desenhar a jurisdição. Ao que tudo indica, decidir com base em normas abstratas e confiando em juízes individuais só funciona em ambientes facilmente padronizáveis e que não mudem com rapidez. Apenas nestas condições é razoável supor que jurisdição se exima de ser criativa. De maneira cada vez mais frequente, casos concretos são decididos também com fundamento em argumentos econômicos, políticos, sociológicos e técnicos e não a partir da exegese do texto da lei. “E o amor?”, perguntaria o professor Warat. Para este novo modo de pensar, ele passaria a fazer parte das instituições. Pois se decidir o caso não é mais interpretar normas, será preciso levar em conta também a dimensão afetiva das partes em dissenso. A decisão deve ser proferida em função do caso e das pessoas envolvidas nele. Evidentemente, tal mudança demanda uma alteração radical na postura do organismo decisório e em seu modo de operar. Por exemplo, a técnica jurídica deixaria de ser uma “hermenêutica de textos” e passaria a ser uma “hermenêutica de fatos”, ou seja, uma prática social interpretativa cujo objetivo seria construir um diagnóstico de fatos sociais singulares e complexos para encontrar respostas jurídicas que lhes fossem adequadas. A jurisdição tomaria a forma de uma atividade legislativa em concreto cujas decisões justificadas deveriam levar em conta o máximo de vozes sociais possíveis. Hans Kelsen mostrou que a diferença entre legislação e jurisdição não é de natureza, mas de grau. A jurisdição produz a norma em concreto e precisa levar em conta casos semelhantes julgados anteriormente; o legislador não. Mas nesse novo registro, a racionalidade jurisdicional não seria mais monofônica, expressão da vontade da lei, e sim polifônica, expressão de diversas vozes sociais. Uma boa decisão seria aquela capaz de abarcar todos os interesses implicados nela, mesmo que para este fim fosse necessário abandonar o modelo de juízes singulares. A participação de mais juízes, inclusive leigos, a realização de audiências públicas e uma utilização mais liberal de perícias e amicus curiae poderia resultar, deste ponto de vista, em decisões mais bem justificadas. Haveria ainda normas abstratas, mas formadas de baixo para cima, a partir da generalização da justificação das decisões. E dentre as razões para decidir poderiam constar argumentos políticos, econômicos, sociológicos, afetivos e de qualquer outra natureza, desde que representativos de interesses sociais pertinentes ao caso. Tal modo de operar tornaria o processo decisório mais complexo, além de aberto à influência de interesses os mais variados, mesmo que escusos. No entanto, caminhar nesta direção parece inevitável. É cada vez mais difícil legislar de uma distância grande demais dos conflitos sociais. Temos que repensar o desenho das instituições para aproximar a legislação da sociedade e radicalizar a democracia, tornando tal processo mais responsivo aos conflitos e interesses em jogo. Tornar dogma de fé o modelo clássico de separação de poderes é a melhor forma de perder a chance de construir novas soluções para os problemas que temos que enfrentar; processo que deve incluir a percepção de o amor é sim assunto de juristas. Mesmo durante o horário do expediente. José Rodrigo Rodriguez, Pesquisador Permanente do CEBRAP/SP, Núcleo Direito e Democracia; Professor, Coordenador de Publicações e Editor da Revista DIREITO GV e da Coleção DIREITO, DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA da Editora Saraiva. Autor de “Fuga do Direito” (Saraiva, 2009), co-organizador de “Nas Fronteiras do Formalismo (Saraiva, 2010) e organizador de “A Justificação do Formalismo” (Saraiva, 2011).

Carta a Karl Kautsky

Carta a Karl Kautsky Friederich Engels Fevereiro 1891 Fonte: The Marxists Internet Archive Londres, 23 de Fevereiro de 1891 Meu caro Kautsky: Recebeste, certamente, as minhas vivas felicitações de anteontem. Voltemos, pois, agora, ao nosso assunto, à carta de Marx (1). O receio de que proporcionasse uma arma aos adversários era infundado. insinuações maldosas fazem-se a propósito de tudo, mas, no seu conjunto, o efeito que causou nos nossos adversários foi de completa perplexidade ante esta implacável autocrítica, e sentiram a força interior que deve ter um partido para permitir-se tais coisas! É isso o que ressalta dos periódicos de oposição que me enviaste (obrigado!) e dos que chegaram às minhas mãos por outras vias. E falando com franqueza, foi esta a intenção com que publiquei o documento. Não ignorava que, aqui e além, iria provocar, num primeiro instante, uma impressão muito desagradável, mas isso era inevitável, e o conteúdo do documento pesou em mim mais do que todos os inconvenientes. Sabia que o Partido era suficientemente forte para o aguentar e calculei que suportaria, também agora, aquela linguagem franca de há quinze anos atrás, e que se assinalaria, com justificado orgulho, esta prova da nossa força, e se diria: que Partido pode atrever-se a fazer outro tanto? O dizê-lo, porém, foi deixado a cargo dos Arbeiter Zeitung da Saxónia e de Viena e do Züricher Post (2). É magnifico da tua parte assumires a responsabilidade de o publicar no número 21 da Neue Zeit (3), mas não esqueças que o empurrão o dei eu, pondo-te de resto, digamos assim, entre a espada e a parede. Por isso reivindico para mim a principal responsabilidade. Quanto a pormenores podem sustentar-se critérios diferentes, bem entendido. Risquei e alterei todas aquelas coisas a que tu e Dietz tinham feito reparos, e se Dietz tivesse assinalado outros pontos, eu, na medida do possível, teria procurado ser transigente: sempre vos dei provas da minha boa vontade. Mas o essencial era a obrigação moral em que me encontrava de dar à coisa publicidade imediata, já que se punha o programa em debate. E com maior motivo depois do discurso de Liebknecht no congresso de Halle, no qual este se apropria sem escrúpulos de extractos do documento como se fossem seus e combate o resto sem o mencionar. Marx teria, certamente, oposto o original a semelhante versão, e eu sentia-me obrigado a fazer o mesmo em seu lugar. Infelizmente, na altura, eu ainda não tinha o documento, que só encontrei muito mais tarde, depois de prolongada busca. Dizes que Bebel te escreve a dizer que a forma como Marx tratou Lassalle aguçou a cólera dos velhos lassallianos. É possível. As pessoas, até agora, não conhecem a verdadeira história, e nada se fez para explicar-lha. Não tenho culpa que essa gente ignore que Lassalle devia toda a celebridade ao facto de Marx lhe ter permitido durante muitos anos, adornar-se com os frutos das suas investigações como se fossem dele, com o risco, de resto, de as falsear por falta de preparação em matéria de Economia. Eu sou, porém, o testamenteiro literário de Marx, e isso impõem-me certos deveres. Lassalle passou à história há vinte e seis anos. E se, enquanto esteve vigente a lei de excepção contra os socialistas, a crítica histórica o deixou em paz, já vão sendo, finalmente, horas de ela fazer valer os seus direitos e de se pôr a claro a posição de Lassalle em relação a Marx. A lenda que envolve e glorifica a verdadeira figura de Lassalle não pode converter-se em artigo de fé para o Partido. Por muito que se queira destacar os serviços prestados por Lassalle ao movimento, o seu papel histórico continua sendo um papel equívoco. Ao socialista Lassalle segue-o, como sombra ao corpo, o demagogo Lassalle. Por detrás do agitador e do organizador, assoma o Lassalle que dirige o processo de Hatzfeld (4): o mesmo cinismo quanto à escolha dos meios e a mesma predilecção em rodear-se de pessoas duvidosas e corruptas, que só utiliza como simples instrumento que logo rejeita. Até 1862, na sua actuação prática, foi um democrata vulgar, marcado pela origem prussiana, com vincadas tendências bonapartistas, (acabo, precisamente, de reler as suas cartas a Marx); em seguida, subitamente, mudou, por razões puramente pessoais, e começou a sua campanha de agitação; não eram transcorridos dois anos, propugnava que os operários deviam tomar partido pela monarquia contra a burguesia, e lançou-se em intrigas tais com Bismark, seu afim em carácter, que o teriam, forçosamente, conduzido a trair, de facto, o movimento, se, por sorte para si, o não tivessem assassinado a tempo. Na sua propaganda escrita, as verdades que ia buscar a Marx estão de tal modo embrulhadas com as suas falsas deduções pessoais que resulta difícil separar a verdade do erro. Aqueles operários que se sentem feridos pelos juízos de Marx, só conhecem de Lassalle os seus dois anos de agitação, e, de resto, vistos de uma óptica cor-de-rosa. A crítica histórica não pode, todavia, prostrar-se eternamente diante de tais preconceitos. Para mim, era um dever, de uma vez para sempre, pôr a nu as verdadeiras relações entre Marx e Lassalle. Já está feito. Com isto dou por contente, de momento. Demais a mais, eu tenho agora outras coisas a fazer. E o juízo implacável de Marx sobre Lassalle, já publicado, ecarregar-se-á, por si só, de surtir os seus efeitos e incutir ânimo a outros para falarem francamente. Se, porém, me visse obrigado a tal, não teria outro remédio que não fosse acabar de vez com a lenda de Lassalle. Tem a sua graça a opinião largamente expressa no grupo parlamentar de que se deve impor uma censura à neue Zeit. A que é isso devido? À memória dos tempos da autocracia da facção socialista do Reichstag (5), da lei de excepção (que foi, apesar de tudo, necessária e conduzida magnificamente)? ou à recordação da organização outrora fortemente centralizada de Schweitzer? É, na verdade, uma ideia genial pensar em submeter a ciência socialista alemã, após tê-la libertado da lei de Bismark (6) contra os socialistas, a uma nova lei anti-socialista que os próprios funcionários do Partido social-democrata teriam de fabricar e pôr em execução. de resto, a própria natureza dispôs que as àrvores não crescerão até ao céu - os desejos não se tornarão realidade. O artigo do «Vorwärts» não me preocupa muito (7). Esperarei que Liebknecht relate, à sua maneira, o ocorrido, e depois responderei a ambos, no tom mais amistoso possível. Haverá que corrigir algumas inexactidões do artigo do «Vorwärts » (por exemplo, que nós não queriamos a unificação; que os acontecimentos viram provar que Marx se enganou, etc.) e alguns pontos carecem, evidentemente, de confirmação. Penso, com esta resposta, dar por terminados, pela minha parte, os debates, a não ser que novos ataques ou afirmações inexactas me obriguem a dar novos passos. Diz a Dietz que estou a trabalhar na nova edição da Origem (8). Mas hoje escreve-me Fischer, que quer três novos prefácios. Teu, Friederich Engels Notas: (1) Refere-se à «Crítica do programa de Gotha », publicada, por intermédio de Engels, na «Neue Zeit», de que Kautsky era director. (retornar ao texto) (2) Engels enumera os jornais social-democratas que, em fevereiro de 1891, publicaram as cartas aprovando a vinda a lume da obra de Marx - Crítica do Programa de Gotha. O Arbeiter-Zeitung (jornal operário), órgão da social-democracia austríaca, lançado em Viena, a partir de 1889, sob a redacção de V. Adler. Nele fez sair Engels uma série de artigos seus nos anos 90. O Sächsische Arbeiter-Zeitung (jornal operário saxónico), diário dos social-democratas alemães, tornouse. aí pelo começos dos anos 90, órgão central do grupo dos «jovens», grupo de oposição e de tendências anarquizantes. Publicou-se em Dresde de 1890 a 1908. Por último, o Züricher Post (O Correio de Zurique) era um jornal de tendência democrática (burguesa) que se publicou em Zurique de 1879 a 1936. (retornar ao texto) (3) Die Neue Zeit (O Tempo Novo) - revista teórica da social-democracia alemã, que se publicou em Estugarda de 1883 a 1923. Engels colaborou na revista com uma série de artigos, entre os anos que vão de 1885 a 1894. (retornar ao texto) (4) Trata-se do processo de divórcio intentado pela condessa Sophie Hatzfeld, que Lassalle dirigiu, na qualidade de advogado, nos anos 1846-1854. Exagerando, para lá das marcas, a importância deste processo cujo móbil era a defesa dos interesses duma velha família aristocratica, Lassalle assimilava-o à luta pela causa dos oprimidos.. (retornar ao texto) (5) Trata-se da minoria social-democrata no Rechstag alemão. (retornar ao texto) (6) A lei de excepção contra os socialistas, adoptada em 1878, na Alemanha, proibia todas as organizações do Partido social-democrata, as organizções de massas, a imprensa operária ea literatura social-democratas. Devido à pressão do movimento operário de massas, foi abolida em 1890. (retornar ao texto) (7) O artigo editorial do «Vorwärts» (de 13 de Fevereiro de 1891), órgão central sa social-democracia alemã, sustentava o ponto de vista oficial da Comissão Executiva do Partido referente à publicação da «Crítica do programa de Gotha». O artigo condenava, do modo mais duro, as opiniões de Marx sobre Lassalle e considerava como mérito do Partido que este, não obstante a crítica de Marx, tivesse aprovado o projecto do programa. (retornar ao texto) (8) Trata-se da quarta edição alemã da «Origem da família, da propriedade e do Estado» do próprio Engels. (retornar ao texto)

Uma Entrevista com Leon Trotsky

Setembro de 1938 Uma Entrevista com Leon Trotsky Mateo Fossa Setembro de 1938 Fonte: The Marxists Internet Archive Fossa: Qual será, em sua opinião o desenvolvimento futuro da situação atual na Europa? Trotsky: É possível que também nessa ocasião a diplomacia possa chegar a um desonroso compromisso. Mas ele não durará muito tempo. A guerra é inevitável em um futuro muito próximo. Uma crise internacional segue a outra. Suas convulsões são as dores do parto da guerra que se aproxima. Cada novo paroxismo terá um caráter mais severo e perigoso. Atualmente não vejo nenhuma força no mundo que possa deter o desenvolvimento desse processo, ou seja, o início da guerra. Uma terrível matança avança inexoravelmente em direção à humanidade. Naturalmente, uma ação revolucionária oportuna por parte do proletariado internacional poderia paralisar o serviço de rapina dos imperialistas. Mas nós devemos encarar a realidade. As massa trabalhadoras da Europa, em sua imensa maioria, estão sob a direção da Segunda e Terceira internacionais (1). Os dirigentes da Internacional sindical de Amsterdã apoiam a política das direções da Segunda e Terceira Internacionais e estão a seu lado no que se chama "Frentes Populares" (2). A política da Frente Popular como demonstram os exemplos de da Espanha, França e outros países consiste em subordinar o proletariado à ala esquerda da burguesia. Todavia toda a burguesia dos países capitalistas, tanto de direita como de "esquerda", está impregnada de chauvinismo e de imperialismo. A "Frente Popular" serve para transformar os operários em bucha de canhão para a sua burguesia imperialista. E para nada além disso. A Segunda e Terceira Internacionais e a Internacional sindical de Amsterdã são atualmente organizações contra-revolucionárias, cuja tarefa é freiar e paralisar a luta revolucionária do proletariado contra o imperialismo "democrático". Enquanto a criminosa direção dessas internacionais não for derrotada, os operários serão impotentes para opor-se à guerra. Essa é a amarga mas indiscutível realidade. Nós devemos aprender a encará-la de frente e não nos consolarmos com ilusões e discursos pacifistas. A guerra é inevitável! Fossa: Qual será o efeito da guerra sobre a luta da Espanha e sobre o movimento operário internacional? Trotsky: Para compreender corretamente a natureza dos próximos acontecimentos devemos antes de ais nada demostrar a teoria falsa e completamente equivocada segundo a qual a próxima guerra será uma guerra entre o fascismo e a "democracia. Nada é mais falso e mais estúpido do que essa idéia. As "democracias" imperialistas estão divididas por causa das contradições dos seus interesses em todo o mundo. A Itália fascista pode facilmente passar para o lado da Grã-Bretanha e da França se ela deixa de acreditar na vitória de Hitler. A Polônia semi-fascista pode unir-se a um outro lado, de acordo com as vantagens que lhe serão oferecidas. No transcorrer da guerra a burguesia francesa pode substituir sua "democracia" pelo fascismo para manter a submissão dos operários e obrigá-los a lutar "até o fim". A França fascista, assim como a frança "democrática", defenderá suas colônias com armas na mão. A nova guerra terá um caráter de rapina imperialista muito mais claro do que de 1914-18. Os imperialistas não lutam por princípios políticos, mas por mercados, colônias, matérias primas, pela hegemonia sobre o mundo e sobre suas riquezas. A vitória de qualquer um dos campos imperialistas representaria a escravidão definitiva de toda a humanidade, o fortalecimento da submissão de colônias existentes, dos povos fracos e atrasados, entre eles os da América Latina. A vitória de qualquer um dos campos imperialistas representará a escravidão, a desgraça, a miséria, a decadência da cultura humana. Qual é a saída, você me pergunta? Pessoalmente, não tenho dúvidas de que a nova guerra provocará uma revolução internacional contra a dominação das camarilhas imperialistas sobre a humanidade. Durante a guerra todas as diferenças entre "democracia imperialista" e o fascismo desaparecerão. Em todos os países uma ditadura militar impiedosa reinará. Os operários e camponeses alemães morrerão da mesma forma que os franceses e ingleses. Os modernos instrumentos de destruição sã tão aperfeiçoados que a humanidade provavelmente não será capaz de resistir à guerra mais do que alguns meses. O desespero, a indignação, o ódio levarão as massas de todos os países em guerra a uma insurreição armada. A revolução socialista é inevitável. A vitória do proletariado mundial acabará com a guerra e resolverá dessa forma o problema espanhol, assim como todos os problemas atuais da Europa e de outras partes do mundo. Esses "dirigentes" da classe operária querem atrelar o proletariado ao tanque de guerra do imperialismo, coberto com a máscara da "democracia", são hoje os piores inimigos e os traidores diretos dos trabalhadores. Nós devemos ensinar os operários a odiar e a desprezar os agentes do imperialismo, pois eles envenenam a consciência dos trabalhadores; nós devemos explicar aos operários que o fascismo é apenas uma das formas do imperialismo, que nós não devemos lutar contra os sintomas exteriores da doença mas contra suas causas orgânicas, ou seja, contra o capitalismo. Fossa: Qual é a perspectiva para a revolução mexicana? Como você vê a desvalorização da moeda em relação com a expropriação das riquezas da terra? Trosky: Eu não posso falar suficientemente em detalhes sobre essas questões. A expropriação da terra e das riquezas naturais é uma medida indispensável de defesa nacional para o México. Não satisfazendo as necessidades cotidianas do campesinato, nenhum país latino-americano poderá obter sua independência. A queda do poder de compra da moeda é um resultado do bloqueio imperialista contra o México, que já começou. As privações materiais são inevitáveis na luta. É impossível salvar-se sem sacrifícios. Capitular diante dos imperialistas significaria abandonar a riqueza natural do país à pilhagem e o povo à decadência e a extinção . Evidentemente as organizações operárias devem estar atentas para que o aumento do custo de vida não recaia fundamentalmente sobre os trabalhadores. Fossa: O que você pode dizer sobre a luta de libertação dos povos da América Latina e sobre os problemas do futuro? Qual é a sua opinião sobre o aprismo? (3) Trotsky: Eu não estou suficientemente a par da vida de cada um países da América Latina para poder dar uma resposta concreta às questões que você me apresenta. De qualquer maneira, me parece claro que as tarefas internas desses países não podem ser resolvidas sem uma luta revolucionária simultânea contra o imperialismo. Os agentes dos Estados Unidos, Inglaterra, França (Lewis, Jouhaux, Lombardo Toledano, os estalinistas) (4) tentam substituir a luta contra o imperialismo pela luta contra o fascismo. Nós temos observado os esforços criminosos feito por eles no recente congresso contra a guerra e o fascismo. Nos países da América Latina, os agentes dos imperialismos "democráticos" são particularmente perigosos, porque são mais capazes de enganar as massas que os agentes declarados dos bandidos fascistas. Eu tomarei o exemplo mais simples e mais demonstrativo. Existe atualmente no Brasil um regime semi-fascista que qualquer revolucionário só pode encarar com ódio. Suponhamos, entretanto que, amanhã, a Inglaterra entre em conflito militar com o Brasil. Eu pergunto a você de que do conflito estará a classe operária? Eu responderia: nesse caso eu estaria do lado do Brasil "fascista" contra a Inglaterra "democrática". Por que? Porque o conflito entre os dois países não será uma questão de democracia ou fascismo. Se a Inglaterra triunfasse ela colocaria um outro fascista no Rio de Janeiro e fortaleceria o controle sobre o Brasil. No caso contrário, se o Brasil triunfasse, isso daria um poderoso impulso à consciência nacional e democrática do país e levaria à derrubada da ditadura de Vargas (5). A derrota da Inglaterra, ao mesmo tempo, representaria um duro golpe para o imperialismo britânico e daria um grande impulso ao movimento revolucionário do proletariado inglês. É preciso não Ter nada na cabeça para reduzir os antagonismos mundiais e os conflitos militares à luta entre o fascismo e a democracia. É preciso saber distinguir os exploradores, os escravagistas e os ladrões por trás de qualquer máscara que eles utilizem! Em todos os países latino-americanos, os problemas da revolução agrária estão indissociavelmente ligados à luta anti-imperialista. Os stalinistas estão, hoje, buscando paralisar as duas lutas. Para o kremlin, os países latino-americanos são apenas pequenas moedas em seus negócios com os imperialistas. Stalin diz em Washington, Londres e Paris: "Reconheçam-me como um parceiro em condições de igualdade e eu ajudarei vocês a esmagar o movimento revolucionário nas colônias e semi-colônias; para isso tenho sob minhas ordens centenas de agentes como Lombardo Toledano". O stalinismo tornou-se lepra do movimento de libertação mundial. Não conheço suficientemente o aprismo para dar sobre ele um parecer definitivo. No Peru, a atividade desse partido tem um caráter ilegal, e, consequentemente, é difícil observá-la. Os representantes do APRA no congresso de setembro contra a guerra e o fascismo reunido no México, adotaram, em minha opinião, uma posição digna e correta conjuntamente com os delegados de Porto Rico. A esperança é que o APRA não se torne uma presa do stalinismo, por que isso paralisaria a luta pela libertação no Peru. Eu creio que os acordos com os apristas em tarefas práticas bem definidas são possíveis e desejáveis, sob condição de uma completa independência organizativa. Fossa: Que conseqüências terá a guerra para os países da América Latina? Trotsky: Sem dúvida, os dois campos imperialistas tentarão envolver os países latino-americanos na guerra para, em seguida, reduzí-los à escravidão completa. O vazio palavrório "anti-fascista" somente prepara o terreno para os agentes de um dos campos imperialistas. Para prepararem-se para a guerra mundial, os partidos revolucionários da América Latina deveriam aproximar-se uns dos outros. Em um primeiro período da guerra, a posição dos povos fracos pode tornar-se muito difícil. Porém, os campos imperialistas se enfraquecerão cada vez mais, mês após mês. A luta mortal entre eles permitirá aos países latino-americanos. Eles serão capazes de atingir sua completa libertação, se à frente das estiverem partidos e sindicatos verdadeiramente revolucionários, anti-imperialistas. Não se pode cair de circunstâncias históricas trágicas através de estratagemas, frases ocas ou pequenas mentiras. Nós devemos dizer a verdade às massas, toda a verdade e apenas a verdade. Fossa: Quais são, em sua opinião, os métodos e as tarefas dos sindicatos? Trotsky: Para que os sindicatos possam ser capazes de reunir, educar e mobilizar o proletariado para uma luta de libertação, eles devem libertar-se do métodos totalitários do stalinismo. É preciso abrir os sindicatos aos operários de todas as tendências, mantendo-se a disciplina na ação. Toda pessoa que transforma os sindicatos em uma arma destinada a fins exteriores (em particular com instrumento da burocracia stalinista e do imperialismo "democrático") divide inevitavelmente a classe operária, a enfraquece e abre as portas à reação. Uma completa e honesta democracia no interior dos sindicatos é a condição mais importante para a democracia no país. Para terminar, eu peço a você que transmita minha saudação fraternal aos operários da Argentina. Sei que eles não acreditam nas desagradáveis calúnias que os agentes stalinistas fazem circular no mundo sobre minha pessoa e sobre meus amigos. A luta da IV Internacional contra a burocracia stalinista é uma continuação da grande luta histórica dos oprimidos contra os opressores, dos explorados contra os exploradores. A revolução internacional libertará todos os oprimidos, inclusive os trabalhadores da URSS. Notas: (1)- A Segunda Internacional foi organizada em 1889 como uma associação dos partidos socialdemocratas e operários, reunindo elementos revolucionários e reformistas. Seu papel progressivo encerrou-se em 1914, quando suas principais seções violaram os princípios socialistas internacionalistas mais elementares apoiando seus governos respectivos na guerra imperialista. Ela desapareceu durante a Primeira Guerra Mundial e foi ressuscitada como organização totalmente reformista em 1923.(retornar ao texto) (2) - Internacional Sindical de Amsterdã era o nome pela qual era conhecida a Federação Internacional dos sindicatos de orientação social-demcrtata, com sede em Amsterdã.(retornar ao texto) (3) - O APRA (Aliança Popular Revolucionária Americana) possuía em seu apogeu partidários em Cuba, México, Peru, Chile, Costa Rica, Haiti e Argentina. O Aprismo foi o primeiro movimento a lutar pela unidade latino-americana contra o imperialismo. O APRA elaborou um programa populista de 5 pontos: unidade de ação contra o imperialismo ianque; unidade da América Latina; industrialização e reforma agrária; internacionalização do canal do Panamá; solidariedade mundial de todos os povos e classes oprimidas. Depois o APRA degenerou, tornando-se um partido liberal, anti-comunista e agente do imperialismo ianque.(retornar ao texto) (4) - John L. Lewis (1880-1969) foi presidente da United Mine Workers of América (sindicato dos mineiros) de 1920 até a sua morte. Ele dirigia a minoria do Conselho executivo da AFL e foi o principal fundador do CIO. Leon Jouhaux (1870-1954) foi secretário-geral da CGT francesa. Reformista, socialpatriota, e colaboracionista de classes. Vicente Lombardo Toledano (1893-1968) stalinista, dirigia a Confederação dos Trabalhadores Mexicanos.(retornar ao texto) (5) - Getulio Vargas (1883-1954) foi o presidente do Brasil de 1930 a 1945, declarou as greves ilegais fechou as publicações operárias e prendeu os dirigentes sindicais. Sua constituição elaborada em 1937 interditava à classe operária qualquer direito enquanto classe. Ele chegou novamente ao poder em 1950, havendo nesse período atritos com o imperialismo norte americano. Em 1954 Vargas suicidou-se. (retornar ao texto)

segunda-feira, 19 de março de 2012

A verdade oblíqua

Entrevista de JEAN BAUDRILLARD do livro Simulacros e Simulações

O pensador que inspirou a trilogia "Matrix" não gosta do filme e acha que a cultura americana impõe padrões banais

LUíS ANTôNIO GIRON


O professor baixo e mal-humorado é hoje uma das figuras mais populares do novo século. O pensador francês Jean Baudrillard, de 74 anos, recusa-se a falar em inglês. Mesmo assim, é tão popular nos Estados Unidos por causa de suas análises sobre a cultura de massa que foi convidado a fazer um show de filosofia em Las Vegas.


ÉPOCA - Suas idéias demolidoras estão mais em moda do que nunca. O mundo ficou mais parecido com o senhor?
Jean Baudrillard - Não aconteceu nada. O resultado de um consumo rápido e maciço de idéias só pode ser redutor. Há um mal-entendido em relação a meu pensamento. Citam meus conceitos de modo irracional. Hoje o pensamento é tratado de forma irresponsável. Tudo é efeito especial. Veja o conceito de pós-modernidade. Ele não existe, mas o mundo inteiro o usa com a maior familiaridade. Eu próprio sou chamado de 'pós-moderno', o que é um absurdo.

ÉPOCA - Mas pós-modernidade não é um conceito teórico racional?
Baudrillard - A noção de pós-modernidade não passa de uma forma irresponsável de abordagem pseudocientífica dos fenômenos. Trata-se de um sistema de interpretações a partir de uma palavra com crédito ilimitado, que pode ser aplicada a qualquer coisa. Seria piada chamá-la de conceito teórico.

ÉPOCA - Se não é pós-moderno, como o senhor define seu pensamento em poucas palavras? Os críticos o chamam de pensador terrorista, ou niilista irônico.
Baudrillard - Sou um dissidente da verdade. Não creio na idéia de discurso de verdade, de uma realidade única e inquestionável. Desenvolvo uma teoria irônica que tem por fim formular hipóteses. Estas podem ajudar a revelar aspectos impensáveis. Procuro refletir por caminhos oblíquos. Lanço mão de fragmentos, não de textos unificados por uma lógica rigorosa. Nesse raciocínio, o paradoxo é mais importante que o discurso linear. Para simplificar, examino a vida que acontece no momento, como um fotógrafo. Aliás, sou um fotógrafo.

ÉPOCA - Como o senhor explica a espetacularização da realidade?
Baudrillard - Os signos evoluíram, tomaram conta do mundo e hoje o dominam. Os sistemas de signos operam no lugar dos objetos e progridem exponencialmente em representações cada vez mais complexas. O objeto é o discurso, que promove intercâmbios virtuais incontroláveis, para além do objeto. No começo de minha carreira intelectual, nos anos 60, escrevi um ensaio intitulado 'A Economia Política dos Signos', a indústria do espetáculo ainda engatinhava e os signos cumpriam a função simples de substituir objetos reais. Analisei o papel do valor dos signos nas trocas humanas. Atualmente, cada signo está se transformando em um objeto em si mesmo e materializando o fetiche, virou valor de uso e troca a um só tempo. Os signos estão criando novas estruturas diferenciais que ultrapassam qualquer conhecimento atual. Ainda não sabemos onde isso vai dar.



ÉPOCA - A disseminação de signos a despeito dos objetos pode conduzir a civilização à renúncia do saber?
Baudrillard - Alguma coisa se perdeu no meio da história humana recente. O relativismo dos signos resultou em uma espécie de catástrofe simbólica. Amargamos hoje a morte da crítica e das categorias racionais. O pior é que não estamos preparados para enfrentar a nova situação. É necessário construir um pensamento que se organize por deslocamentos, um anti-sistema paradoxal e radicalmente reflexivo que dê conta do mundo sem preconceitos e sem nostalgia da verdade. A questão agora é como podemos ser humanos perante a ascensão incontrolável da tecnologia.

ÉPOCA - Seu raciocínio lembra os dos personagens da trilogia Matrix. O senhor gostou do filme?
Baudrillard - É uma produção divertida, repleta de efeitos especiais, só que muito metafórica. Os irmãos Wachowski são bons no que fazem. Keanu Reeves também tem me citado em muitas ocasiões, só que eu não tenho certeza de que ele captou meu pensamento. O fato, porém, é que Matrix faz uma leitura ingênua da relação entre ilusão e realidade. Os diretores se basearam em meu livro Simulacros e Simulação, mas não o entenderam. Prefiro filmes como Truman Show e Cidade dos Sonhos, cujos realizadores perceberam que a diferença entre uma coisa e outra é menos evidente. Nos dois filmes, minhas idéias estão mais bem aplicadas. Os Wachowskis me chamaram para prestar uma assessoria filosófica para Matrix Reloaded e Matrix Revolutions, mas não aceitei o convite. Como poderia? Não tenho nada a ver com kung fu. Meu trabalho é discutir idéias em ambientes apropriados para essa atividade.

ÉPOCA - Quanto à arte, o senhor se dedicou a analisar o fenômeno artístico ao longo dos anos. Em que pé se encontra a arte contemporânea?
Baudrillard - A arte se integrou ao ciclo da banalidade. Ela voltou a ser realista, a desejar a restituição da reprodução clássica. A arte quer cumplicidade do público e gozar de um status especial de culto, situação prefigurada nas sinfonias de Gustav Mahler. Claro que há exceções, mas, em geral, os artistas se renderam à realidade tecnológica. Desde os ready-mades de Marcel Duchamp, a importância da arte diminuiu, porque a obra de arte deixou de ter um valor em si. Os signos soterraram a singularidade. Os artistas se submetem a imperativos políticos, e não mais seguem ideais estéticos. A arte já não transforma a realidade e isso é muito grave.


ÉPOCA - Por que o senhor escreveu tanto sobre a cultura americana mas nunca refletiu sobre o Brasil, que o senhor tanto adora visitar?
Baudrillard - Já me cobraram um livro sobre o Brasil. Cito-o em minhas Cool Memories (trabalho no quinto volume) e em outros textos, mas a cultura brasileira é muito complexa para meu alcance teórico. Ela não se enquadra muito em minhas preocupações com a contemporaneidade, não tem nada a ver com a americana, com seus dualismos maniqueístas, um país que se construiu a partir das simulações, um deserto da cultura no qual o vazio é tudo. Os Estados Unidos são o grau zero da cultura, possuem uma sociedade regressiva, primitiva e altamente original em sua vacuidade. No Brasil há leis de sensualidade e de alegria de viver, bem mais complicadas de explicar. No Brasil, vigora o charme.

ÉPOCA - O que o senhor pensa da civilização americana depois dos atentados de 11 de setembro? O mundo mudou mesmo por causa deles?
Baudrillard - Claro que mudou. Nunca mais seremos os mesmos depois da destruição do World Trade Center. Abordo o tema em Power Inferno, uma coletânea de artigos sobre o império americano e a política. Considero os atentados um ato fundador do novo século, um acontecimento simbólico de imensa importância porque de certa forma consagra o império mundial e sua banalidade. A Guerra do Iraque apenas dá seqüência às ações imperiais. Os terroristas que destruíram as torres gêmeas introduziram uma forma alternativa de violência que se dissemina em alta velocidade. A nova modalidade está gerando uma visão de realidade que o homem desconhecia. O terrorismo funda o admirável mundo novo. Bom ou mau, é o que há de novo em filosofia. O terrorismo está alterando a realidade e a visão de mundo. Para lidar com um fato de tamanha envergadura, precisamos assimilar suas lições por meio do pensamento.

sexta-feira, 16 de março de 2012

INDIVIDUALISMO Y POLÍTICA

Julio César De León Barbero*



Introducción



La dimensión humana que llamamos vida en sociedad ha sido objeto de estudio desde tiempos inmemoriales. Partiendo de Platón y Aristóteles los filósofos han dedicado mucho de su valioso y escaso tiempo a examinar, definir y explicar las instituciones sociales, las normas morales, las leyes, el gobierno, el arte mismo de gobernar, los comportamientos sociales inter-subjetivos, etc.

La manera de tratar la realidad sociopolítica se distingue de un pensador a otro por cuestiones metodológicas o por el recurso a diferentes categorías de análisis. De este modo se puede señalar a quienes tienen como punto de partida teorías de intereses (ya individuales, ya colectivos); los que conciben la vida en sociedad como un fenómeno natural y los que sostienen que es, por el contrario, algo completamente artificial.

La utilización de metodologías distintas y el recurso a diferentes categorías de análisis conduce a explicaciones disímiles y deriva en doctrinas distintas que proveen una variedad de significados a la terminología que describe fenómenos sociales que no varían. Eso exactamente es lo que sucede, por ejemplo con la noción de estado y la noción de gobierno. ¿Cuál es la definición del uno y del otro? Proveer todas las significaciones de que han sido objeto es algo que escapa totalmente al propósito de esta introducción. No obstante, en apego a nuestros propósitos es importante hacer constar lo siguiente.

En cuanto a la noción de estado hay que recordar lo que Hans Kelsen afirma en su Teoría general del estado en el sentido de que aún siendo celosamente científicos es inevitable contar más de doce definiciones de estado. Afirma, al final, que:

Y como quiera que la multiplicidad de sentidos de la palabra Estado es casi ilimitada, hay que considerar también totalmente estéril emprender la lucha por tal concepto, con la finalidad de mostrar cuál la significación justa, única admisible de entre las muchas indicadas, y que fácilmente podrían aumentarse.[1]

Ahora bien el problema es resuelto por el mismo Kelsen al afirmar que para una teoría general del estado no es inconveniente el que, en definitiva, no resulte precisamente un concepto único del Estado, sino varios, los cuales, sin embargo, hállanse íntimamente enlazados unos con otros”.[2]

Puede que sea así como Kelsen lo plantea. No obstante una definición muy utilizada es la que afirma que el Estado, en cuanto realidad social, tiene como características definitorias la soberanía o poder supremo, el pueblo y el territorio. Dicho de otro modo, el Estado es una comunidad, un grupo social fincado en un área geográfica determinada y cuya autoridad o poder supremo proviene de sí mismo. Esta definición enfatiza el aspecto sociológico del Estado.

Hay, no obstante, tres concepciones del Estado que por tener un carácter más filosófico son mucho más generales lo cual es importante puesto que abarcan, así, mayor número de problemas y aspectos de la realidad sociopolítica. Nos referimos a la concepción organicista del Estado, a la concepción contractualista y a la formalista.

En la concepción organicista del Estado (Platón, Santo Tomás, Fichte, Hegel) se afirma la independencia del Estado en relación con los individuos. El Estado es, a la vez, anterior a los individuos de manera que éstos son algo en virtud de aquél.

En la concepción contractualista del Estado se sostiene que éste es una obra enteramente humana (los estoicos, Locke, Lucero, Hobbes). Toda la bondad o el poder del Estado no va más allá de la bondad y el poder que los hombres han querido reconocerle o conferirle dentro de las limitaciones de un pacto convencional.

Estas dos concepciones, la organicista y la contractualista, tienen en común que ambas reconocen el aspecto sociológico del estado que hemos señalado más arriba.

Por su parte la concepción formalista del Estado se encuentra muy bien definida en la obra del Hans Kelsen ya citada, Teoría general del Estado. En una palabra el formalismo define al Estado simplemente como un orden jurídico. Se trata de una sociedad políticamente organizada en base al ordenamiento coercitivo que implica imprime la red de leyes imperante.

Como es de esperarse Kelsen niega el aspecto sociológico del Estado pues si bien no ignora la existencia de hechos y comportamientos sociales afirma que todos éstos presuponen el concepto de estado pero no lo definen.

El formalismo kelseniano no permite hacer distinciones entre Estado absolutista, Estado democrático y Estado liberal. Lo más interesante, sin embargo es que no hace referencia al estado de derecho entendido como el respeto irrestricto a los derechos individuales pues Kelsen hace coincidir Estado y Derecho.

Gobierno es otro término igualmente problemático que el de Estado. Se define, por una parte, como la organización que rige y administra un Estado. Pero, por otra parte, se considera el aparato a través del cual se ejerce el poder de soberanía de un Estado. Esta organización o aparato fue simple en los albores de la humanidad y adquirió mayor complejidad con el advenimiento de la agricultura, la vida sedentaria y el crecimiento de los asentamientos humanos,

Kelsen reconoce, más explícitamente, que así como, por una parte, el Estado significa el conjunto de todos sus órganos, por otro lado se aplica la misma expresión, para determinados órganos (por ejemplo sólo para designar el llamado Gobierno).[3] Además, la definición no formal de gobierno (definición no aceptada en la teoría kelseniana) consiste en afirmar que el gobierno es aquella parte de la administración en sentido amplísimo, que cae en el dominio de la política, es decir, aquella en el que el Estado determina e impone su propia esencia.[4] Por estas razones es perfectamente válido hablar –como se hace en este trabajo- de intervención estatal al señalar la intromisión del gobierno por medio de acciones o prescripciones en la vida del individuo.

Ahora bien algo que preocupó durante mucho tiempo fue lo relacionado con las formas de gobierno. Tan es asi que desde el insigne historiador griego Heródoto pasando por Platón y Aristóteles hasta la Edad Media y la Edad Moderna (hasta Montesquieu), se le confirió importancia a las distinciones, bondades y/o flaquezas del gobierno de uno -la monarquía-, el gobierno de pocos -la aristocracia- y el gobierno de muchos -la democracia-.

Dentro del discurrir político contemporáneo, sin embargo, la discusión acerca de las formas de gobierno ha perdido relevancia. Sabemos hoy que la libertad y el bienestar de los ciudadanos no dependen de la forma de gobierno que adopte el Estado sino más bien de las limitaciones impuestas al ejercicio del poder gubernamental. La distinción o clasificación de las formas de gobierno, por tal motivo, no constituye ya más un problema efectivo en la teoría y práctica de la política.

Después de estas declaraciones preliminares es necesario recordar que en los últimos quinientos años Occidente ha venido afirmando que la persona individual posee un valor intrínseco y último que no debe sacrificarse a las exigencias sociales, estatales o gubernamentales. Esta afirmación o principio de la mentalidad occidental se fue forjando casi desde los inicios de nuestra civilización con el humanismo clásico griego, primero, y se reafirmó con aportes provenientes del cristianismo.[5]

Este individualismo es signatario de la concepción contractualista del Estado; particularmente de la concepción que John Locke tenía del contrato social porque –a diferencia de Hobbes y de Rousseau- Locke propone que lo que surge del contrato no es la sociedad y la cooperación sino el aparato de coerción que hace valer los derechos a la vida y a la propiedad de los individuos. Sólo desde esta perspectiva es posible limitar efectivamente el poder gubernamental y salvaguardar los derechos individuales.

En el presente trabajo tratamos de caracterizar la teoría política a la que da origen el individualismo e intentamos confirmar la hipótesis de que la Reforma Protestante tuvo una influencia particular en la conformación de la mentalidad liberal.

Nos esforzamos por encontrar rasgos de esas influencias en el pensamiento de Juan Calvino, doscientos años antes de que se diera en el puritanismo inglés la denominada ética protestante a la cual Max Weber consideró como el definitivo aporte del protestantismo al espíritu capitalista.

En el Capítulo I se efectúa un análisis del individualismo procediendo a una definición del mismo tanto como a identificar algunos elementos que condujeron a su formulación en la edad moderna.

El Capítulo II contiene referencias a algunas teorías que sobre la función del gobierno se han dado y se trata críticamente tales propuestas a la luz del individualismo.

El Capítulo III gira en torno a la noción de orden social teniendo como horizonte el individualismo para abordar sus origenes, funciones y naturaleza.

El Capítulo IV conduce a caracterizar en forma genérica aquella teoría política cuya base de sustentación es el valor de la persona individual y sus derechos fundamentales.

Finalmente en el Capitulo V se hace un intento por encontrar puntos de encuentro entre el pensamiento reformado, el individualismo y la teoría política que se deriva del mismo. Puntos de encuentro que, yendo más allá del ámbito económico tratado por Max Weber, toquen lo político y lo jurídico.











CAPÍTULO I

UNA FUNDAMENTAL DEFINICIÓN

La noción más general de individuo es la de cualquier ser, considerado asiladamente, en relación con su especie. Puede también definirse el individuo como uno no dividido en sí.

Tales definiciones, aunque aplicables al terreno antropológico, no son suficientes para definir al individuo humano precisamente porque éste es eso pero no únicamente eso. El individuo humano es el hombre concreto. Un yo concreto que se distingue por ser incomunicable, no intercambiable, con capacidad para conocerse a sí mismo.

El individuo humano es en una palabra: una persona. Un ser poseedor de raciocinio y voluntad. Que tiene la condición ineludible de ser único y la tarea igualmente necesaria de labrar su existencia, de construir su vida. De ese modo está obligado a pensar, a sentir, a querer, a actuar y, sobre todo, a ser por cuenta propia.

Pero la individualidad, si bien es importante, vital, no puede hacernos olvidar la otra dimensión propia del hombre: la sociabilidad. Todo hombre necesita de la cooperación de otros para su conservación y perfeccionamiento. No obstante en el aspecto social el hombre encuentra factores que muchas veces le impiden auto-realizarse: usos, costumbres, tabúes, leyes y, sobre todo, un gobierno que pretende organizar más o menos aspectos de la vida personal, individual.

En ese orden de ideas el gobierno puede constituirse, como le veremos en su oportunidad, en un ente que impida al individuo proyectar su propia vida. La arbitrariedad gubernamental es el instrumento más efectivo para terminar con la función más sustantiva del individuo: concretar su propio proyecto de vida o ser él mismo. Esto último significa acabar con la creatividad y el afán de producir que es la vía más segura de arruinar la vida social.

En el contexto de este trabajo el término individualismo apunta a un movimiento intelectual, a una doctrina moral, política y económica que reconoce al individuo humano muy por encima de los grupos, asociaciones o agrupaciones a los que pertenece. En ese sentido se parte de la siguiente afirmación: Socialmente hablando el individuo es mucho más importante que cualquier colectivo o tipo de asociación.

Ese valor del individuo en la vida social tiene fundamentos que esperamos enumerar y explicar en el desarrollo de este trabajo. Momentáneamente tenemos que aclarar que este individualismo ha tenido su despliegue histórico hasta convertirse en parte fundamental del liberalismo en tanto que teoría acerca de los límites del gobierno y en tanto explicación a los complejos problemas sociales. Al decir del premio Nóbel de economía 1974 Friedrich A. Hayek, el individualismo constituye una teoría de la sociedad, un intento de comprender las fuerzas que determinan la vida social del hombre.[6]

Más concretamente podemos decir que el individualismo es también una teoría acerca del papel del gobierno y la naturaleza del Estado teoría en la cual éste último existe en función del individuo y no al revés. Asi pues, el individualismo y la teoría política que le corresponde tienen que ser diametralmente opuestos al absolutismo y al totalitarismo de cualquier laya.

Aunque en la actualidad ya no se invoca una autoridad ilimitada derivada, por ejemplo, de Dios –teocracia-, también es cierto que el autoritarismo absolutista ha resurgido originado e inspirado en otras razones pero siempre demandando un sometimiento incondicionado del individuo al Estado. En estas modernas concepciones absolutistas se exige obediencia y sometimiento –y hasta el sacrificio del individuo- en aras de la grandeza nacional, de la justicia social o del bien de las mayorías. De manera que objetivos que se creen (y podrían ser) moralmente loables hacen obligatorios procederes moralmente reprobables como pisotear los derechos a la libertad y a la propiedad de los individuos. En esencia, esto es lo inspira todas las dictaduras.

Por su parte el individualismo ha de conducir a una teoría política en la cual se sostenga que asegurando condiciones óptimas para el ejercicio de los derechos individuales se logre, a largo plazo, beneficios para el total de miembros de la sociedad. Porque allí donde existe respeto por cada ser humano, estímulo al ingenio y a la iniciativa personal, el resultado global será mejor que donde existe la opresión.

1. Momentos importantes en el surgimiento del individualismo.

El individualismo, aunque podría tener alguna raíz en la antigüedad, surge con sus esenciales rasgos en el Renacimiento teniendo en mente que aludir al Renacimiento es referirse, a la vez, a la Reforma. Aclarando, por supuesto, que ambos movimientos espirituales surgieron por disímiles razones; diferencias que no fueron obstáculo para que influyeran mutuamente y en conjunto que dieran vida a toda una época. Esa época tenía como meta una sola cuestión: la restauración de la inmediatez de la vida en la relación de hombre con Dios o en la relación del hombre con el mundo”.[7] Lograr esa inmediatez de la vida era importante en momentos en los que la Iglesia Católica Romana y la filosofía escolástica se habían convertido en autoridades inapelables en todos los órdenes de la vida personal, social y política.

La rebelión contra semejante autoritarismo se canalizó por el sendero del retorno a las fuentes antiguas y originales tanto de la filosofía como de la doctrina cristiana. Volver a abrevar en las fuentes filosóficas antiguas dio nacimiento al pensamiento humanista en tanto que, en lo que concierne a la doctrina cristiana, la Reforma enfatizó, particularmente con Lucero, la importancia de la autonomía de la conciencia individual.

Aquella insistencia en el retorno a lo clásico, esa desconfianza en la autoridad omnisapiente, desembocarían en una característica decididamente liberal: sospechar del racionalismo ingenuo en aras de la demostración empírica lo que traducido al ámbito social significa: apego a la tradición, rechazo a lo que se impone arbitrariamente y no por el lento pero libre consenso individual.

La Edad Moderna se inicia afirmando, recuperando valores negados en toda la época anterior. Por supuesto no fue fácil para las ideas individualistas permear las mentes, las costumbres, las instituciones. Europa poseía un espíritu tan acostumbrado a los rígidos esquemas medievales que, a parte de lo dicho ya, mantenían privilegios y protegían intereses de élite.

Ciertos factores, no obstante, comenzaron a forjar un ambiente intelectual que fue propicio al aparecimiento del individualismo: Entre otras cosas, los límites geográficos se rebasaron descubriéndose nuevas latitudes; se configuró una distinta concepción del mundo; las aplicaciones de la ciencia condujeron al dominio sobre la naturaleza proveyendo seguridad y entusiasmando los corazones con la idea del progreso; y, finalmente, el advenimiento de un sistema económico diferente.

Lo más importante para nuestra tarea, sin embargo, son las ideas surgidas del humanismo y la Reforma protestante. Sobre todo las surgidas de ésta última.

Para Harold Laski aquella transformación en la esfera del pensamiento del siglo XVI tuvo las características siguientes:

Es, en parte, una evolución de la doctrina política: se forma una teoría del Estado como entidad capaz de bastarse a sí misma. En parte, otra vez, es una teología nueva y en su formación se emprenden investigaciones que minan la influencia de la fe sobre la mente humana. Finalmente, se construye una cosmología nueva que da lugar a una concepción científica nueva, por una parte, y a una nueva metafísica, por la otra. Vamos de Copérnico a Keplero, de Cardan y Vesalio, a Galileo y Harvey, a Bacon y Descartes. Cuando llegamos al hombre del siglo XVII, el individuo posee un sentido de dominio sobre el universo, nuevo a la vez en profundidad y aspiración. Está preparado, por decirlo así, para disputar a Dios el derecho de supremacía sobre su destino.[8]

La consecuencia inevitable fue que el individualismo echó los cimientos para una nueva concepción de la vida social, de la economía, de la política, de la religión, de la moral. En esa revolución intelectual tuvo mucho que ver el pensamiento de los reformadores protestantes. Uno de los trabajos más conocidos respecto a la influencia del protestantismo en crear una mentalidad liberal es el de Max Weber.[9]

El quehacer nuestro radica en probar la hipótesis de que en el pensar reformado existían otras ideas, aparte de la moral calvinista tratada por Weber en su obra, que fueron ideas de una enorme afinidad con el liberalismo.



Continuará en el número de Primavera de 2006



* Titular de la cátedra de Filosofía Social, Universidad Francisco Marroquín.

[1] Kelsen, Hans, Teoría general del Estado, México, Editora Nacional, 1951, p. 6.

[2] Loc. Cit.

[3] Ibid, p. 5

[4] Ibid, p. 321.

[5] Sólo hay que recordar al respecto la concepción judeo-cristiana del hombre tal como se expone en el mito de la creación: Adán es considerado un agente moralmente libre capaz de tomar en manos propias la forja de su propio destino, aún en contra de la voluntad de su propio creador (como en efecto sucedió). No es la raza humana un conjunto de títeres movidos por los hilos de fuerzas ciegas que los controlan sino individuos dueños de sus actos y a la vez responsables de las consecuencias de su actuar.

[6] von Hayek, Friedrich A., Individualismo verdadero o falso, Buenos Aires, Centro de Estudios sobre la libertad, s.f., p. 19.

[7] Schilling, Kurt, Historia de la filosofía, tomo V, Desde el Renacimiento hasta Kant, México, UTEHA, 1965 (130/130), p. 17.

[8] Laski, Harold, El liberalismo europeo, México, Fondo de Cultura Económica, 1969, (Breviarios del Fondo de Cultura Económica, 81), p. 25.

[9] Weber, Max, La ética protestante y el espíritu del capitalismo, México, Premia Editora, 1979.

Intelectuais e poder: uma conversa entre Michel Foucault e Gilles Deleuze - Traduzido

Esta é uma transcrição de uma conversa de 1972, entre os filósofos pós-estruturalistas de Michel Foucault e Gilles Deleuze, que discute as relações entre as lutas das mulheres, homossexuais, etc prisioneiros a luta de classes, e também a relação entre teoria, prática e poder

Esta transcrição apareceu pela primeira vez em Inglês no livro "A linguagem, memória Contador-Prática,: ensaios selecionados e entrevistas por Michel Foucault, editado por Donald F. Bouchard.

Michel Foucault: Um maoísta me disse uma vez: "Eu posso facilmente entender o propósito de Sartre no tapume conosco, eu posso entender seus objetivos e seu envolvimento na política, eu posso compreender parcialmente a sua posição, desde que você sempre se preocupou com o problema de confinamento. Mas Deleuze é um enigma. " Fiquei chocado com esta declaração, porque a sua posição sempre me pareceu particularmente claro para mim.

Gilles Deleuze: Possivelmente estamos no processo de experimentar uma nova relação entre teoria e prática. Ao mesmo tempo, a prática foi considerada uma aplicação da teoria, uma conseqüência, em outros momentos, é uma sensação ruim oposto e ele foi pensado para inspirar a teoria, a ser indispensável para a criação de futuras formas teóricas. Em qualquer caso, a sua relação foi entendida em termos de um processo de totalização. Para nós, no entanto, a questão é vista sob uma luz diferente. As relações entre teoria e prática são muito mais parciais e fragmentárias. por um lado, uma teoria é sempre local e afins a um campo limitada, e é aplicada em outra esfera, mais ou menos distante a partir dele. A relação que mantém com a aplicação de uma teoria nunca é de semelhança. Além disso, a partir do momento em que uma teoria se move em seu próprio domínio, ele começa a encontrar obstáculos, paredes e bloqueios que exigem a sua retransmissão por outro tipo de discurso (é por este outro discurso que, eventualmente, passa para um domínio diferente). A prática é um conjunto de relês de um ponto teórico para o outro, e teoria é um relê de uma prática para o outro. Nenhuma teoria pode se desenvolver sem eventualmente encontrar uma parede, e prática é necessária para perfurar este muro. Por exemplo, seu trabalho começou na análise teórica do contexto de confinamento, especificamente no que diz respeito ao asilo psiquiátrico dentro de uma sociedade capitalista no século XIX. Então você se tornou ciente da necessidade de pessoas confinadas a falar por si, para criar um relé (é possível, ao contrário, que sua função já era a de um relé em relação a eles), e este grupo encontra-se em prisões - - essas pessoas estão presas. Foi nesta base que você organizou o grupo de informações para as prisões (GIP) (1), sendo o objectivo criar condições que permitam aos próprios presos para falar. Seria absolutamente falso dizer, como o maoísta implícita, que, em se mudar para essa prática que estavam aplicando suas teorias. Este não era um aplicativo; nem era um projeto para iniciar reformas ou de um inquérito no sentido tradicional. A ênfase era totalmente diferente: um sistema de relés dentro de uma esfera maior, dentro de uma multiplicidade de peças que são tanto teórica como prática. Um intelectual teorização, para nós, já não é um sujeito, uma consciência representante ou representativa. Aqueles que agem e lutam deixaram de ser representados, seja por um grupo ou um sindicato que se apropria do direito de elegibilidade, a sua consciência. Quem fala e age? É sempre uma multiplicidade, mesmo dentro da pessoa que fala e age. Todos nós somos "pequenos grupos". (2) Representação não existe mais, não há apenas uma ação teórico-ação e ação prática que servem como centros e redes de formulário.

MF: Parece-me que o envolvimento político do intelectual era tradicionalmente o produto de dois diferentes aspectos de sua atividade: a sua posição como intelectual na sociedade burguesa, no sistema de produção capitalista e na ideologia que ela produz ou impõe (seu pobreza, exploração, rejeição, perseguição, as acusações de atividade subversiva, a imoralidade, etc), e seu discurso adequado na medida em que ele revelou uma verdade particular, que revelou relações políticas onde foram insuspeita. Estas duas formas de politização não se excluem mutuamente, mas, sendo de uma ordem diferente, nem que eles coincidem. Alguns foram classificados como "párias" e outros como "socialistas". Durante momentos de reação violenta por parte das autoridades, estas duas posições foram prontamente fundidos: após 1848, depois da Comuna, a partir de 1940. O intelectual foi rejeitado e perseguido no momento preciso, quando os fatos se tornou incontestável, quando era proibido dizer que o rei estava nu. O intelectual dizia a verdade àqueles que ainda tinha que vê-lo, em nome daqueles que foram proibidos de falar a verdade: ele era a consciência, a consciência e eloquência. Na agitação mais recente (3) o intelectual descobriu que as massas já não precisa dele para ganhar conhecimento: eles sabem perfeitamente bem, sem ilusão, pois eles sabem muito melhor do que ele e eles são certamente capazes de se expressar. Mas existe um sistema de poder que bloqueia, proíbe, e invalida esse discurso e esse conhecimento, um poder não só encontrado na autoridade manifesto de censura, mas que penetra profundamente e sutilmente toda uma rede social. Intelectuais são eles próprios agentes desse sistema de poder, a idéia de sua responsabilidade pela "consciência" e parte do discurso formulários do sistema. O papel do intelectual não é mais a colocar-se "um pouco à frente e ao lado", a fim de expressar a verdade sufocada da coletividade, mas sim, é lutar contra as formas de poder que transformá-lo em seu objeto e instrumento na esfera de "conhecimento" verdade "", "consciência" e "discurso". (4)

Neste sentido a teoria não expressará, não traduzirá, ou servem para aplicar a prática: é prática. Mas é local e regional, como você disse, e não totalizante. Esta é uma luta contra o poder, uma luta que visa revelar e minando o poder onde ele é mais invisível e insidioso. Não é "despertar a consciência" que luta (as massas têm consciência, há algum tempo que a consciência é uma forma de conhecimento e consciência como a base da subjetividade é uma prerrogativa da burguesia), mas do poder seiva, para tomar poder, é uma atividade realizada ao lado daqueles que lutam pelo poder, e não sua iluminação a partir de uma distância segura. A "teoria" é o sistema regional desta luta.

GD: Precisamente. Uma teoria é exatamente como uma caixa de ferramentas. Não tem nada a ver com o significante. Deve ser útil. Tem de funcionar. E não para si mesma. Se ninguém usa, a começar pelo próprio teórico (que então deixa de ser um teórico), então a teoria é inútil ou o momento é inadequado. Nós não revisar uma teoria, mas construir novos; não temos escolha a não ser fazer os outros. É estranho que era Proust, um autor pensado para ser um intelectual puro, que disse de forma tão clara: tratar o meu livro como um par de óculos dirigidos para fora, se eles não lhe agradar, encontrar um outro par, deixo isso para encontrar o seu próprio instrumento, que é necessariamente um investimento para o combate. A teoria não totalizar, é um instrumento para a multiplicação e também se multiplica. É na natureza do poder de totalizar e é a sua posição. e que eu concordo plenamente com que a teoria é, por natureza oposição ao poder. Assim que uma teoria está envolvido em um determinado ponto, percebemos que ela nunca vai ter a menor importância prática a menos que possa entrar em erupção em uma área totalmente diferente. É por isso que a noção de reforma é tão estúpida e hipócrita. Ou as reformas são projetadas por pessoas que dizem ser representativa, que fazem uma profissão de falar pelos outros, e eles levam a uma divisão de poder, uma distribuição deste novo poder que é, consequentemente, aumentou a repressão dupla, ou que surgem a partir de as queixas e demandas das pessoas envolvidas. Este último caso não é mais uma ação revolucionária reforma, mas que as questões (expressando toda a força de sua parcialidade) a totalidade do poder e da hierarquia que mantém. Isto é certamente evidente nas prisões: a menor e mais insignificante das exigências dos presos pode punção Pleven do pseudoreform (5). Se os protestos das crianças foram ouvidas no jardim de infância, se suas perguntas foram atendidos, seria suficiente para explodir todo o sistema educacional. Não há como negar que o nosso sistema social é totalmente sem tolerância; isso explica sua extrema fragilidade em todos os seus aspectos e também a sua necessidade de uma forma global de repressão. Na minha opinião, você foi o primeiro em seus livros e na prática-esfera para nos ensinar algo absolutamente fundamental: a indignidade de falar pelos outros. Pe ridicularizado representação e disse que estava acabado, mas não conseguiu tirar as consequências desta "teórica" ​​conversão para apreciar o fato teórico de que só os directamente envolvidos pode falar de uma maneira prática em seu próprio nome.

MF: E quando os prisioneiros começaram a falar, eles possuíam uma teoria individual de prisões, o sistema penal e da justiça. É esta forma de discurso que, em última análise importa, um discurso contra o poder, o contra-discurso de prisioneiros e aqueles que chamamos de delinqüentes e não uma teoria sobre a delinqüência. O problema das prisões é local e marginal: não mais de 100.000 pessoas passam pelas prisões em um ano. Na França, no momento, entre 300.000 e 400.000 foram para a prisão. No entanto, esse problema marginal parece perturbar a todos. Fiquei surpreso que tantos que não tinha sido a prisão poderia se interessar por seus problemas, que surpreendeu a todos aqueles que nunca ouviram o mau discurso de presos poderia tão facilmente compreendê-los. Como explicar isso? Não é porque, de um modo geral, o sistema penal é a forma na qual o poder é obviamente visto como poder? Para colocar alguém na prisão, para confiná-lo para privá-lo de comida e calor, para impedi-lo de sair, fazer amor, etc, esta é certamente a manifestação mais frenética do poder imaginável. No outro dia eu estava falando com uma mulher que mal estava na prisão e ela dizia: ". Imagine, que na idade de 40, fui punido um dia com uma refeição de pão seco" O que impressiona nesta história não é a infantilidade do exercício do poder, mas o cinismo com que o poder é exercido como poder, no mais arcaico, a maneira pueril infantil. Como as crianças que aprendem o que significa ser reduzida a pão e água. A prisão é o único lugar onde o poder se manifesta em seu estado nu, na sua forma mais excessiva, e onde ele se justifica como força moral. "Estou no meu direito de puni-lo, porque você sabe que ele é criminoso para roubar e matar ...... O que é fascinante nas prisões é que, pela primeira vez, o poder não esconder ou mascarar-se, revela-se como tirania perseguido nos mínimos detalhes, é cínico e ao mesmo tempo, pura e inteiramente "justificado", pois sua prática pode ser totalmente formulada no âmbito da moralidade sua tirania brutal, consequentemente aparece como dominação serena do Bem sobre o Mal, de. ordem sobre a desordem.

GD: Sim, eo inverso é igualmente verdadeiro. Não são apenas os prisioneiros tratados como crianças, mas as crianças são tratadas como prisioneiras. Crianças são submetidas a uma infantilização que é estranho para eles. Nesta base, é inegável que as escolas se assemelham a prisões e que as fábricas são a sua maior aproximação. Olhe para a entrada de uma fábrica da Renault, ou em qualquer outro lugar para esse assunto: três ingressos para entrar no banheiro durante o dia. Você encontrou um texto do século XVIII por Jeremy Bentham propor reformas de prisão, em nome desta reforma exaltado, ser criado um sistema circular em que a prisão renovada serve de modelo e onde o indivíduo passa imperceptivelmente da escola para a fábrica, da fábrica para a prisão e vice-versa. Esta é a essência do impulso reformista, de representação reformada. Pelo contrário, quando as pessoas começam a falar ea agir em seu próprio nome, eles não se opõem à sua representação (mesmo que sua reversão) para outro, pois eles não se opõem a uma nova representatividade para a representatividade falsa do poder. Por exemplo, lembro-me dizendo o que não existe justiça popular contra a justiça; o acerto de contas se dá em outro nível.

MF: Eu acho que não é simplesmente a idéia de formas melhores e mais justas de justiça que fundamenta o ódio das pessoas do sistema judicial, de juízes, tribunais e prisões, mas de retirada deste e antes de mais nada, a percepção singular que o poder é sempre exercido à custa do povo. A luta anti-judiciária é uma luta contra o poder e eu não acho que é uma luta contra a injustiça, contra a injustiça do sistema judicial, ou uma luta para melhorar a eficiência de suas instituições. É particularmente notável que em surtos de tumulto e revolta em movimentos sediciosos ou o sistema judicial tem sido um alvo tão atraente como a estrutura financeira, o exército, e outras formas de poder. Minha hipótese, mas é apenas uma hipótese é que os tribunais populares, tais como aqueles encontrados na Revolução, eram um meio para a classe média baixa, que foram aliados com as massas, para salvar e recuperar a iniciativa na luta contra o sistema judicial. Para conseguir isso, eles propuseram um sistema judicial baseado na possibilidade de justiça equitativa, onde um juiz pode emitir um veredicto justo. A forma de identificação do tribunal de justiça pertence à ideologia burguesa de justiça.

GD: Na base de nossa situação atual, o poder enfaticamente desenvolve uma visão total ou global. Ou seja, todas as formas atuais de repressão (repressão racista dos trabalhadores imigrantes, a repressão nas fábricas, no sistema educacional, ea repressão geral da juventude) são facilmente totalizados a partir do ponto de vista do poder. Não devemos apenas procurar a unidade dessa forma em reação a Maio de 68, mas mais apropriadamente, na preparação concertada e organização do futuro próximo, o capitalismo francês agora depende de uma "margem" do desemprego e abandonou o liberal e máscara paterna que prometeu pleno emprego. Nesta perspectiva, começamos a ver a unidade das formas de repressão: restrições à imigração, uma vez que é reconhecido que os trabalhos mais difíceis e ingrata ir para imigrantes trabalhadores repressão nas fábricas, porque os franceses deve readquirir o "gosto" para o trabalho cada vez mais difícil, a luta contra os jovens ea repressão do sistema educacional, porque a repressão policial é mais ativo quando há menos necessidade de jovens na força de trabalho. Uma vasta gama de profissionais (professores, psiquiatras, educadores de todos os tipos, etc) será chamado a exercer funções que tradicionalmente pertenciam à polícia. Isso é algo que você anunciava há muito tempo, e pensava-se impossível no momento: o reforço de todas as estruturas de confinamento. Contra esta política global do poder, iniciamos localizadas contra-respostas, escaramuças, ativos e defesas ocasionalmente preventivas. Nós não temos necessidade de totalizar o que é invariavelmente totalizados no lado do poder, se estivéssemos a caminhar nesse sentido, isso significaria restaurando formas representativas de centralismo e uma estrutura hierárquica. Temos de criar filiações laterais e todo um sistema de bases net-obras e popular, e isso é especialmente difícil. Em qualquer caso, já não definem a realidade como uma continuação da política no sentido tradicional da concorrência e da distribuição do poder, através das chamadas agências representativas do Partido Comunista ou a União Geral dos Trabalhadores (6). A realidade é o que realmente acontece nas fábricas, nas escolas, nos quartéis, nas prisões, nas delegacias de polícia. E esta ação comporta um tipo de informação que é totalmente diferente daquela encontrada nos jornais (o que explica o tipo de informação transportada pela Agence de Imprensa da Libertação (7). "

FOUCAULT: Não é esta dificuldade de encontrar formas adequadas de luta um resultado do fato de que continuamos a ignorar o problema do poder? Afinal de contas, nós tivemos que esperar até o século XIX antes de começarmos a compreender a natureza da exploração, e até hoje, ainda temos de compreender totalmente a natureza do poder. Pode ser que Marx e Freud não pode satisfazer o nosso desejo de entender essa coisa enigmática que chamamos de poder, que é ao mesmo tempo visível e invisível, presente e oculta, onipresente. Teorias de governo e as análises tradicionais de seus mecanismos certamente não esgotam o campo onde o poder é exercido e onde funciona. A questão do poder re-alimentação de um total enigma. Quem exerce o poder? E em qual esfera? Agora sabemos com razoável certeza, que explora os outros, que recebe os lucros, o que as pessoas estão envolvidas, e sabemos como esses fundos são reinvestidos. Mas, como para o poder. . . Sabemos que não está nas mãos daqueles que governam. Mas, é claro, a idéia da "classe dominante" nunca recebeu uma formulação adequada, e nem têm outros termos, como "para dominar ..... para governar ..... para governar", etc Estes noções são muito fluidos e exigem uma análise. Devemos também investigar os limites impostos ao exercício do poder de os relés através do qual opera e na medida de sua influência sobre os aspectos muitas vezes insignificantes da hierarquia e as formas de controlo, vigilância, proibição e restrição. Em todos os lugares que o poder existe, ele está sendo exercido. Ninguém, a rigor, tem o direito oficial ao poder, e ainda está sempre animado em uma determinada direção, com algumas pessoas de um lado e alguns no outro. Muitas vezes, é difícil dizer quem detém o poder em um sentido preciso, mas é fácil ver que não tem poder. Se a leitura de seus livros (de Nietzsche para o que eu antecipar em Capitalismo e Schisophrenia (8) tem sido essencial para mim, é porque eles parecem ir muito longe em explorar este problema: sob o tema antigo do significado, do significante eo significado, etc, você desenvolveu a questão do poder, da desigualdade de poderes e de suas lutas. Cada luta se desenvolve em torno de uma determinada fonte de energia (qualquer um dos incontáveis, minúscula fontes, um chefe do pequeno-tempo, o gerente de "HLM", "um guarda da prisão, um juiz, um representante do sindicato, o editor-chefe de um jornal). E se apontar estas fontes, denunciando e falar-se de fazer parte da luta, não é porque eles eram desconhecidas. Pelo contrário, é porque, para falar sobre este assunto, para forçar as redes institucionalizadas de informação para escutar, para produzir nomes, apontar o dedo de acusação, para encontrar metas, é o primeiro passo no inversão de poder eo início de novas lutas contra as formas de poder existentes. se o discurso dos detentos ou dos médicos da prisão constitui uma forma de luta, é porque eles confiscam, ao menos temporariamente, o poder de falar sobre as condições de prisão no presente, . propriedade exclusiva dos administradores das prisões e seus amigos em grupos de reforma O discurso de luta não se opõe ao inconsciente, mas a secreta Pode não parecer muito,. mas o que se acabou por ser mais do que esperávamos A? série de mal-entendidos se relaciona com as coisas que são "convidados", "reprimido", e "não dito", e eles permitem que o barato "psicanálise" dos objetos próprios de luta é talvez mais difícil de descobrir um segredo que o inconsciente.. Os dois temas frequentes no passado recente, que "a escrita dá origem a elementos reprimidos" e que "a escrita é necessariamente uma atividade subversiva," parecem trair uma série de operações que merecem ser severamente denunciado.

GD: Com relação ao problema que você colocou: é claro que explora, quem lucra e quem governa, mas o poder não deixa de ser algo mais difuso. Eu arriscaria a seguinte hipótese: o impulso do marxismo era para definir o problema, essencialmente, em termos de interesses (poder é exercido por uma classe dominante definida por seus interesses). A pergunta surge imediatamente: como é que as pessoas cujos interesses não estão sendo servidos estritamente pode suportar a estrutura de poder existente, exigindo um pedaço da acção? Talvez, isso ocorre porque em termos de investimentos, sejam eles económicos ou inconsciente, o interesse não é a resposta final, há investimentos de desejo que a função de uma forma mais profunda e difusa do que os nossos interesses ditam. Mas, claro, nunca desejamos contra os nossos interesses, porque o interesse sempre segue e encontra-se onde o desejo a colocou. Não podemos calar o grito de Reich: as massas não foram enganadas, em determinado momento, eles realmente queriam um regime fascista! Há investimentos de desejo que o molde e distribuição de energia, que tornam a propriedade do policial, tanto quanto do primeiro-ministro, neste contexto, não há diferença qualitativa entre o poder exercido pelo policial eo primeiro-ministro. A natureza desses investimentos de desejo em um grupo social explica por que os partidos políticos ou sindicatos, que podem ter ou deveriam ter investimentos revolucionários em nome dos interesses de classe, são tantas vezes reformar orientada ou absolutamente reacionário no nível do desejo.

MF: Como você diz, a relação entre desejo, poder e interesse são mais complexas do que geralmente se pensa, e não é, necessariamente, aqueles que exercem o poder que têm interesse na sua execução, nem sempre é possível para aqueles com interesses de exercer o poder. Além disso, o desejo de poder estabelece uma relação singular entre o poder e interesse. Pode acontecer que as massas, durante os períodos de fascistas, desejo que certas pessoas assumir o poder, as pessoas com quem eles são incapazes de identificar uma vez que estes indivíduos exercem poder contra as massas e à sua custa, até o extremo de sua morte, seu sacrifício, sua massacre. No entanto, elas desejam este poder particular; eles querem que ele seja exercido. Esta peça de desejo, poder e interesse tem recebido muito pouca atenção. Foi um longo tempo antes de nós começamos a entender a exploração e desejo tem tido e continua a ter uma longa história. É possível que as lutas acontecendo agora e as teorias locais, regionais, e descontínuos que derivam dessas lutas e que são indissociáveis ​​deles estão no limiar de nossa descoberta do modo como o poder é exercido.

GD: Neste contexto, devo voltar à questão: o atual movimento revolucionário criou vários centros, e não como resultado de fraqueza ou insuficiência, uma vez que um certo tipo de totalização pertence ao poder e as forças da reação. (Vietnã, por exemplo, é um impressionante exemplo de localizadas contra-tática). Mas arco somos nós para definir as redes, as ligações transversais entre esses pontos ativos descontínuos, de um país para outro ou dentro de um único país?

MF: A questão da descontinuidade geográfica que você levanta pode significar o seguinte: assim que lutamos contra a exploração, o proletariado não apenas conduz a luta, mas também define suas metas, seus métodos, e os locais e instrumentos de confronto, e se aliar -se com o proletariado é aceitar as suas posições, a sua ideologia e suas motivações para o combate. Isto significa identificação total. Mas se a luta é dirigida contra o poder, então todos aqueles sobre quem o poder é exercido em seu detrimento, todos os que acham intolerável, podem começar a luta em seu próprio terreno e com base em sua própria atividade (ou passividade). Em se envolver em uma luta que diz respeito a seus próprios interesses, cujos objectivos que entender claramente e cujos métodos que só eles podem determinar, eles entram em um processo revolucionário. Eles naturalmente entram como aliados do proletariado, porque o poder é exercido do jeito que está, a fim de manter a exploração capitalista. Eles realmente servir à causa do proletariado lutando nesses lugares se encontram oprimidos. As mulheres, prisioneiros, soldados recrutados, os pacientes do hospital, e os homossexuais já iniciaram uma luta específica contra o poder parcelar, as restrições e controles, que são exercidas sobre eles. Essas lutas estão realmente envolvidos no movimento revolucionário na medida em que eles são radical, intransigente e nonreformist, e recusar qualquer tentativa de chegar a uma nova disposição de o mesmo poder com, no máximo, uma mudança de mestres. E esses movimentos estão ligados ao movimento revolucionário do proletariado na medida em que eles lutam contra os controles e restrições que servem o mesmo sistema de poder.

Neste sentido, o quadro geral apresentado pela luta não é certamente a da totalização você mencionado anteriormente, esta totalização teórica sob o disfarce de "verdade". A generalidade da luta especificamente retira do sistema de poder em si, de todas as formas nas quais o poder é exercido e aplicado.

GD: E o que nós somos incapazes de aproximar-se em qualquer de suas aplicações sem revelar o seu caráter difuso, de modo que somos necessariamente levou - com base na demanda mais insignificante ao desejo de explodi-lo completamente. Cada ataque ou defesa revolucionária, porém parcial, está ligado, desta forma, a luta dos trabalhadores.

Esta discussão foi gravada 04 de marco de 1972, e foi publicado em uma edição especial do L'Arc (n º 49, pp 3-10), dedicado a Gilles Deleuze. Ela é reproduzida aqui com permissão da L'Arc. (Todas as notas fornecidas pelo editor.)

1. "Groupe d'informação de" prisões: dois Foucault publicações mais recentes (Eu, Pierre Rivière e Surveiller et punir) resultam de tal associação.
2. Cf. acima "Theatrum Philosophicum", p. 185 em Língua, Counter-Memória, prática.
3. Maio de 1968, popularmente conhecida como os "acontecimentos de maio".
4. Veja discours L'Ordre du, pp 47-53 em Língua, Counter-Memory, Practice.
5, René Pleven foi o primeiro-ministro da França no início dos anos 1950.
6. "Confederação Generale de Travailleurs", Confederação Geral dos Trabalhadores.
7. Libertação Agência de Notícias.
8. Nietzsche et la Philosophie (Paris: PUF, 1962) e Capitalisme et schisophrenie, vol. 1, "Anti-Édipo, em colaboração com F. Guattari (Paris: Editions de Minuit, 1912). Ambos os livros estão agora disponíveis em Inglês.
9. Habitações à Loyer Modéré - arrendamento habitacional moderado ".