(Re) Pensando o Direito

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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

CAPITALISMO COMO RELIGIÃO

Para melhor aprofundamento neste assunto é sugerido a leitura de: http://questionandoodireito.blogspot.com/2011/09/para-um-retorno-genealogico-ao-direito.html



(KAPITALISMUS ALS RELIGION)

Walter Benjamin


No capitalismo pode se ver uma religião, isto é o capitalismo presta-se essencialmente à satisfação das mesmas preocupações, tormentos e intranqüilidades, as quais, outrora, as assim chamadas religiões davam respostas. A prova desta estrutura religiosa do capitalismo não está apenas como pensava Weber no fato de que ela tem uma constituição condicionada de maneira religiosa, mas sim, como no fato de ser um aparecimento essencialmente religioso, isto levaria hoje, ainda, ao caminho equivocado de uma polêmica universal sem medidas. Nós não podemos perceber a rede na qual estamos presos. Mais tarde, porém, isto será percebido.
Três aspectos, porém, já se pode reconhecer no presente desta estrutura religiosa do capitalismo. Primeiro o capitalismo mostra-se como uma religião puramente cultual, talvez a mais extrema que algum dia existiu, para ele tudo só tem significado na sua relação imediata com o culto, ele não conhece nenhuma dogmática especial, nenhuma teologia. O utilitarismo ganha sob esse ponto de vista a sua coloração religiosa. A esta concreção do culto, está relacionado um segundo aspecto do capitalismo: a duração permanente do culto. O capitalismo é a celebração de um culto sans revê et san merci (sem sonho e sem piedade). Ali não há nenhum dia da semana, pois não há um dia que não seja dia de festa, no sentido mais temível do desenvolvimento de todas as pompas sacrais, que seriam o tensionamento mais extremo dos devotos. Este culto é devido a um terceiro. O capitalismo é provavelmente o primeiro caso de um culto que não é expiatório, que não é, portanto, um culto para purgar a culpa, mas sim um culto de culpabilização. E com isso mostra-se este sistema religioso na balada de um movimento horrível, um sentimento de culpa terrível que não se deixa desculpar. Apega-se ao culto não para que nele possa purgar a culpa, mas
sim para tornar universal a consciência impregnada pela culpa e por fim e acima de tudo envolver Deus mesmo nesta culpa, para por fim interessar a ele mesmo na expiação, fazer com que Deus mesmo tenha interesse em pulgar a culpa. Isto, porém, não é de se esperar do próprio culto, nem tampouco na reforma dessa religião que precisaria se apegar a algo mais seguro nela própria, nem tampouco na recusa dela. Isto pertence à própria essência desse movimento religioso o qual o capitalismo é, a exclusão até o fim, até a culpabilização final e total de Deus a fim de atingir a condição mundial do desespero, na qual, exatamente, ainda se tem esperança. E aí se encontra o equivoco histórico do capitalismo, já que a religião nele não é mais uma reforma do ser, mas a sua destruição. A extensão do desespero a uma condição mundial religiosa, na qual a salvação é de se esperar. A transcendência de Deus caiu, mas ele não está morto, ele foi envolvido no destino humano. Esta passagem do planeta humano através da casa do desespero, na qual a solidão absoluta de seu caminho é o ethos que Nietzsche indicou, este homem é o super-homem, o além do homem, o primeiro que reconheceu e começou a cumprir a religião capitalista, corresponder a ela. Seu quarto aspecto é que nela Deus tem que ser escondido para que possa ser invocado para que se possa a ele dirigir-se de sua culpabilização. O culto é celebrado diante de uma deidade imatura, cada representação, cada pensamento nela fere o segredo de sua maturidade.
A teoria freudiana também pertence ao sacerdócio deste culto, ela foi totalmente pensada capitalisticamente. O recalque, a consciência culpada é profundamente entendida em analogia com o capital, do qual cobram juros do inferno do inconsciente.
O tipo do pensamento religioso capitalista encontra-se de maneira excelente expressa na filosofia de Nietsche, o pensamento do além do homem desloca o pulo “apocalíptico” não para uma conversão da culpa, expiação e purificação, mas sim no aparentemente constante até a ultima tensão, até a maior tensão e explosão por conta de um crescente descontinuado, por isso, este crescente em desenvolvimento no sentido de não se dar saltos inconciliáveis, o alem do homem é o que chega a um ponto sem conversão do homem histórico que através dos céus desenvolveu-se, esta explosão dos céus pelo incremento das capacidades humanas a qual de maneira religiosa também para Nietzche,
uma culpabilização foi desconsiderada por Nietzsche. Da mesma maneira em Marx: o capitalismo sem retorno tornou-se com os juros e juros sobre juros, enquanto tais, funções da culpa (schuld) (veja o duplo sentido demoníaco deste termo)1. Também para Marx na sua concepção do capitalismo com juros e juros sobre juros enquanto função de uma divida que também é uma culpa ele se torna socialista.
O capitalismo é uma religião do culto puro sem dogma.
O capitalismo constituiu-se de maneira parasitaria no cristianismo do ocidente e assim se desenvolveu, e não apenas no calvinismo, mas também em todas as direções ortodoxas do cristianismo se pode constatar isso, a ser possível de se dizer que o capitalismo na sua história é a historia deste parasita.
Faça se um confronto entre as imagens sagradas das diversas religiões por um lado e as cédulas de dinheiro dos mais diversos estados por outro. O espírito que fala através dos ornamentos destas cédulas.

Capitalismo e direito, caráter pagão do Direito cf. Sorel réflexions sur la violence (reflexão sobre a violência) p. 262.
Superação do capitalismo através da imigração cf. Unger Politik und Metaphysic (Poítica e Metafísica) p. 44.
Fuchs: Struktur der kapitalistischen Gesellschaft (Estrutura da sociedade capitalista).
Max Weber: Aufsätze zur Religionssoziologie 2 bd (Ensaio sobre a sociologia da Religião 2v) 1919/1920.
Ernest Troeltsch: Die Soziallehren der chr. Kirchen und Gruppen (Ges. W I 1912) (A doutrina social da igreja cristã e os grupos).
Veja-se sobretudo, a referência bibliográfica Sonbergiana 2 volume.
Landauer: Aufruf zum Sozialismus (Conclamação ao socialismo) p. 144.
As preocupações: uma doença mental que é apropriada à época capitalista. Fuga espiritual (não material), na probreza, na vagabundagem, na esmola no monastério, tornar-se monge, uma situação que é tão sem saída é culpabilizada. As “preocupações” são um índice deste sentimento de culpa por uma falta de
1 N.T. Em alemão a palavra schuld quer dizer tanto a palavra dívida como a palavra culpa. 
saída. Preocupações aparecem com o medo de não ter-se escapatória nem pela comunidade, nem de maneira individual materialista.

O cristianismo na época da reforma não favoreceu o aparecimento do capitalismo, mas sim ele se transformou em capitalismo.
Metodologicamente seria de se investigar primeiro quais ligações com o mito ao longo da historia do dinheiro foram introduzidas, até que se pode extrair do cristianismo, todos os elementos míticos para que ele constituísse os seus próprios mitos.

Dinheiro de guerra / entesoramento das boas obras / salário que é devido aos padres ‹ . › Plutão como Deus da riqueza, Adam Müller: Reden über die Beredsamkeitv (Discurso sobre a incontinência), 1816 p. 56 e seg.

Correlação do dogma da dissolução que a nós, nesta propriedade, ao mesmo tempo redentora imortal natureza do conhecimento com o capitalismo: o balanço como a redenção e definitivo conhecimento.
Contribui para o conhecimento do capitalismo como religião ter-se presente que os pagãos, ou o paganismo original, com certeza antes de tudo, não tinha o interesse pela religião como algo mais sublime, moral, mas sim concebia a religião como o que havia de mais imediatamente prático e que portanto, em outras palavras, tampouco tinha clareza como no atual capitalismo sobre a sua natureza ideal e transcendente. Antes indivíduos irreligiosos ou de outras crenças de sua comunidade era visto exatamente no sentido de um falso membro, como a atual burguesia vê os membros da sociedade que não são produtivos. 

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